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Nelson Mandela
Nelson Mandela

O homem que buscou paz e o fim da segregação racial na África do Sul e no mundo também buscou amor. Encantador na vida política e na pessoal, Nelson Mandela foi casado três vezes. Para o advogado e ativista político, ficar longe e sem notícias da família, era ficar “seco como um deserto” (confira carta no fim desta página). Mas, ao mesmo tempo, os dois primeiros casamentos não sobreviveram aos desafios da liderança de Mandela contra o apartheid.

 

Sua primeira luta política - e sentimental - começou com a fuga de um casamento arranjado. O regente de seu clã em Transkei, no sudeste da África do Sul, arrumou-lhe uma esposa para casá-lo aos 22 anos. “Sem dúvida minha futura mulher tem tanta vontade de se livrar de mim, quanto eu dela”, lembra Mandela na autobiografia, "Longa Caminhada até a Liberdade".

O primeiro amor
Junto com o amigo, Justice, Mandela foge para Johannesburgo sonhando com a emancipação. Na capital da África do Sul, como estagiário de advocacia de Walter Sisulu, Mandela descobre sua vocação política e o primeiro amor. Na casa do chefe e mentor, o jovem Mandela conhece a enfermeira Evelyn Mase. “Uma menina bonita e tranquila que veio do campo”, recorda Mandela.

 

Eles se casaram em 1944 e tiveram dois filhos, Thembi e Makgatho, e duas filhas, Makaziwe e Pumla. Ao biógrafo Anthony Sampson, Evelyn lembra que o casal vivia com pouco dinheiro nos primeiros anos e não pagavam aluguel para sua irmã, mas mesmo assim eram felizes. “Todo mundo que nos via dizia que nós fazíamos um casal muito bonito”, recordou Evelyn.

 

Mas o casal não conseguiu conciliar as maneiras de ver religião e política. Absorvido pela militância, Mandela começava a ser tornar um líder do Congresso Nacional Africano (ANC em inglês), movimento contra a opressão dos negros sul-africanos. Convertida em testemunha de Jeová depois de perder a primeira filha, Evelyn se voltou cada vez mais à igreja.

 

“Quando eu lhe dizia que estava servindo à nação, ela respondia que servir a Deus estava acima disso. Um homem e uma mulher com visões tão diferentes sobre seus papéis na vida não podem continuar juntos”, escreve Mandela. A união se desfez em 1957. Somente anos após o divórcio, com a eleição de Mandela para presidente em 1994, Evelyn afirma que a força do ex-marido vinha para a “obra de Deus”.

Winnie
Advogado bem sucedido e divorciado, Mandela andava em carro americano importado quando avistou a assistente social Winnie Nomzamo em um ponto de ônibus. “Não sei se algo como o amor pode nascer à primeira vista, mas sei muito bem que no momento em que vi Winnie Nomzamo, eu queria tê-la como mulher”, escreve Mandela na autobiografia.

 

Eles se casam em 1958. Winnie contou em em seu livro de memórias que Mandela nunca lhe propôs casamento. “Um dia Nelson parou o carro no acostamento da estrada e disse: 'Sabe, tem uma mulher que é costureira, você tem que ir vê-la, ela vai fazer seu vestido de noiva. Quantas madrinhas você quer ter?'”, recorda. Segundo ela, ele não foi arrogante, foi apenas algo que ele estava certo e decidido. “Eu só respondi: a que horas?”, completa.

 

As duas filhas do casal - Zenani e Zinzi - nascem nos primeiros dois anos de convivência, em meio à luta política, detenções e processos impostos pelo sistema de apartheid. Em sua autobiografia, Winnie também reclama da falta de tempo com Mandela. “Nunca houve este tipo de vida que você pensa como vida em família, uma jovem esposa que senta com seu marido. Você simplesmente não podia separar Nelson de seu povo: a luta, a nação vinha primeiro”, descreve Winnie.

Em 38 anos de união oficial, Winnie e Mandela conviveram por apenas cinco anos. O líder da ANC foi detido em 1962 e passou 27 anos preso. Diante da corte de divórcio, em 1995, Mandela revelou a solidão dentro do matrimônio. “Nem uma vez, desde que voltei da prisão, Winnie entrou em nosso quarto quando eu estava acordado... Fui o homem mais solitário no período em que fiquei com ela”.

 

Winnie também foi detida e torturada inúmeras vezes durante o regime do apartheid. Hoje ela é reconhecida na África do Sul por ter continuado a militância de Mandela enquanto ele esteve preso, mas também foi acusada por envolvimento em métodos violentos durante o período de resistência.

 

No aniversário de libertação de Mandela, ela o recordou como um homem adorável, trabalhador árduo, comprometido com a luta pela liberdade. “E não era um anjo, assim como a maioria dos seres humanos. Ele nunca clamou ser um santo”.

Após a prisão
Em 1990, depois de ser libertado, Mandela reencontrou Maputo Graça Machel, viúva do presidente moçambicano Samora Michel. Desta vez, o amor não acontece à primeira vista. É pouco a pouco que ele se vê enamorado de uma mulher 27 anos mais jovem.

 

Aos 78 anos, Mandela revela à imprensa “o maravilhoso sentimento de estar apaixonado”, algo em que não acreditava ser ainda possível. Assim como as primeiras mulheres, Graça admite que Mandela podia ser “muito impaciente e teimoso”, “um símbolo, mas não um santo”.

 

Eles se casam no aniversário de 80 anos de Mandela. “Ele é capaz de amar muito profundamente, mas tenta controlar isso muito bem em suas aparições públicas”, revelou Graça ao biógrafo Sampson. “Na vida privada ele se permite ser humano. Ele gosta que as pessoas saibam que ele é feliz”.

 

Ao deixar a presidência em 1999, Mandela decidiu morar com Graça em seu pequeno vilarejo ancestral de Qunu, e criaram uma fundação em defesa dos direitos humanos. Mas continou a influenciar a política nacional e mundial até o último suspiro.

 

“Queria muito me aposentar e descansar e passar mais tempo com meus filhos, meus netos e claro, com minha esposa. Mas os problemas são tais que ninguém consciente de que pode usar alguma influência para trazer paz... fica difícil dizer não”, disse em 2002. Dois anos depois, prometeu que “se aposentava da aposentadoria” para ficar com a família e amigos.